Na década de 2010, a Alfa Romeo renasceu. Primeiro foi em 2011, com Alfa Romeo 4C e seu motor 1.8 turbo central-traseiro – um Lotus Elize mais refinado, à italiana. Depois, em 2015, veio o carro que todo mundo queria: o Alfa Romeo Giulia, feito sob medida para brigar com o BMW M3 e o Mercedes-AMG C63.
Acontece que os alfisti mais puristi acham que a Alfa Romeo de verdade só existiu até o início da década de 1990, quando a companhia foi adquirida pela Fiat e passou a utilizar projetos desenvolvidos em parceria com a gigante de Turim. Os Alfa Romeo começaram a vir com tração dianteira, e isto marcou o fim de uma era.
Só agora os Alfa estão começando a se desvencilhar da fama de “temperamentais”. Eles sempre foram brilhantes aos olhos dos entusiastas, e o senso comum diz que todo mundo que curte carros precisa dirigir um Alfa Romeo das antigas em algum momento da vida, mas eles eram carros que enferrujavam, vazavam óleo e não saíam do mecânico. Ou ao menos era esta sua fama.
O caso é que este aparente desleixo até acrescenta ao caráter dos Alfa Romeo clássico. Olha só: você acha que o Alfa Romeo Sprint Zagato (ou só SZ), último carro da marca que pode ser chamado de “Alfa Romeo à moda antiga”, teria o mesmo charme oitentista sem este jeitão de fora-de-série?
Não estou sendo irônico – estes carros italianos dos anos 80, para mim, estão entre os poucos que podem chamar gaps vergonhosos na carroceria de “marcas de caráter”. Os pessoal fazia questão de mostrar que estava muito ocupado fazendo um carro que transbordasse passione e anima e transmitisse divertimento ao volante para se preocupar com questões fúteis como qualidade de construção e acabamento.
O Alfa Romeo SZ foi criado em parceria com o estúdio Zagato. Uma das mais famosas carrozzerias italianas, a Zagato construiu one-offs para a própria Alfa Romeo, a Aston Martin e a Ferrari, além de alguns conceitos mais recentes da BMW para concorsos d’eleganza.
Uma das marcas da Zagato é a ousadia em seus designs: linhas e recortes incomuns, proporções meio bizarras e elementos com forte apelo conceitual são vistos frequentemente em seus carros. E, na hora de usar como base o Alfa Romeo 75 como base, os estilistas da Zagato não decepcionaram neste quesito.
Costuma-se dizer que o 75 foi o último Alfa Romeo com transeixo – isto é, com a transmissão acoplada ao eixo traseiro, o que tornava mais equilibrada a distribuição de peso com o motor dianteiro. Mas isto só é verdade se considerarmos apenas os Alfa produzidos em massa. Se levarmos em conta os modelos especiais de pequeno volume, quem leva o título é o SZ.
Agora, enquanto o sedã de quatro portas era dono de uma elegância meio esquisita, com linhas sóbrias, porém dianteira em forma de cunha e uma volumosa traseira, o SZ era o contrário: tinha uma esquisitice elegante, quase atlética, em parte graças aos pequenos faróis retangulares, divididos em dois trios na frente, e uma lanterna traseira que era apenas uma régua de acrílico transparente, muito baixa e larga. A carroceria era cheia de vincos e cantos vivos, com linha de cintura bastante alta em relação ao resto do carro.
Apresentado no Salão de Genebra de 1989, o Alfa Romeo logo foi apresentado de “Il Mostro” por seu aspecto… monstruoso.
Do Alfa 75, o SZ herdava a suspensão dianteira por barra de torção e a traseira por eixo DeDion, porém com amortecedores ajustáveis da Koni iguais aos utilizados pelo Alfa Romeo 75 que competia na IMSA. E o motor utilizado era o mais potente da família: o V6 de três litros todo feito de alumínio com comando duplo nos cabeçotes, utilizado no Alfa Romeo 75, no 164 e, posteriormente, no 155, no 156 e no 166. No caso do Alfa Romeo SZ, eram 210 cv a 6.200 rpm e 25 mkgf de torque a 4.500 rpm. Não era uma potência explosiva, mas o bom acerto dinâmico conferido pela suspensão de corrida garantia a diversão a volante. Por outro lado, o peso poderia ser mais baixo – 1.256 kg parece um número alto para um carro com carroceria de fibra de vidro. Ao menos ele não enferuja!
Os desenho do carro foi dividido entre os centros de estilo da Fiat, da Alfa Romeo e da Zagato, sendo que esta última ficou responsável pela fabricação e montagem dos painéis da carroceria, e também do interior. Só havia uma combinação de cores disponível: vermelho com interior castanho-claro. Do lado de dentro o visual era mais convencional – as portas tinham revestimento parcial; a instrumentação tinha aspecto simples, porém era completa; os bancos pareciam oferecer excelente apoio e atrás deles, havia apenas uma área de carga forrada com carpete.
Repare no formato curioso das colunas “A” vistas de dentro do carro. Repare também que a visibilidade do Alfa Romeo Sprint Zagato não era das melhores, apesar da área envidraçada generosa
A Alfa Romeo planejou fabricar 1.000 exemplares do SZ, e acabou fazendo 1.036 deles entre 1989 e 1991, sendo que 100 deles foram exportados para o Japão. Apenas um dos 1.036 carros não era vermelho, e sim preto – o carro de Andrea Zagato, presidente da Zagato e neto de Ugo Zagato, o fundador da empresa.
Podemos dizer então que o Alfa Romeo Spring Zagato foi um sucesso. Tanto que a partir de 1992, a Alfa Romeo fabricou o RZ, ou Roadster Zagato. Mecanicamente ele era idêntico ao SZ mas, por causa dos reforços estruturais exigidos pelo teto removido, ele pesava mais: 1.380 kg. Por esta razão, ele acabou por ficar um pouco mais lento: levava 7,5 segundos para chegar aos 100 km/h, com máxima de 230 km/h. O SZ ia de 0-100 km/h em 7,1 segundos, com máxima de 245 km/h – todos dados de fábrica.
Diferentemente do SZ, o RZ podia ser comprado em outras cores: amarelo com interior preto, vermelho com interior preto e preto com interior vermelho. O plano era fabricar 350 unidades, porém apenas 252 unidades foram concluídas entre 1992 e 1993. Em 1994, outros 32 carros foram feitos, e os três últimos foram pintados de prata e receberam interior bordô. Os três últimos Alfa Romeo com transeixo, à moda antiga.
É claro que você pode contra-argumentar que o Alfa Romeo 8C Competizione, fabricado entre 2007 e 2010, é que ocupa este cargo. No entanto, grand tourer com motor V8 dianteiro era construído sobre o Maserati Gran Turismo. Embora fosse maravilhoso, não era um Alfa Romeo de nascimento como seus antecessores. Se é para ser purista, vamos ser puristas!
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