Metade das ruas da cidade de São Paulo teve ao menos um roubo de celular registrado do início de 2016 até agosto deste ano. São cerca de 32 mil ruas afetadas por mais de 208 mil ocorrências de um dos crimes que atingem o morador da capital com mais frequência. Ainda que a região central tenha a maior incidência, o roubo do aparelho passou a ser considerado “democrático” por especialistas: deixou de ser característico de uma zona e hoje é notado em vias de todas as partes da cidade.
A disseminação desse delito ocorre em paralelo a uma estabilização do número de linhas de celular ativas no Estado, segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Os locais que concentram a maioria dos crimes variam de acordo com o horário do dia, seguindo a dinâmica da cidade. Com o dia claro, as vias que aparecem no topo dos registros são as grandes avenidas que ligam os bairros à zona central. À noite, as vítimas são pedestres que circulam nos bares do centro.
São números em alta. Enquanto o Estado de São Paulo registrou, no acumulado dos primeiros oito meses do ano, uma queda de 1,5% nas ocorrências, na comparação com os mesmos meses do ano passado, os registros que incluem celulares tiveram alta de 4,6% – de 154 mil ocorrências no ano passado, entre janeiro e agosto, para 161 mil neste ano. Levando em conta apenas a capital, a alta é de 6,9%.
O ‘Estado’ mapeou as ocorrências registradas em 2016 e em 2017, até agosto. O dado só considera crimes com emprego de violência ou grave ameaça – furtos ficam de fora. O levantamento, inédito, foi feito com base em uma ferramenta de divulgação de boletins de ocorrência criada pela Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP) ano passado. Resposta do governo a questionamentos sobre a transparência nos índices de criminalidade, ela foi lançada depois de o Estado mostrar, em março daquele ano, que o número de assassinatos na cidade era maior do que se divulgava.
Os dados levam em consideração informações concedidas pelas vítimas, que podem identificar exatamente o local do roubo quando preenchem boletim de ocorrência eletrônico ou com base em pontos de referência predeterminados pelos sistemas das polícias nas delegacias. A queixa gera um documento com dados de latitude e longitude, o que permite indicar o ponto em que o crime aconteceu.
“Atuamos para desestimular esse tipo de crime e o nosso trabalho resulta em muitas prisões e recuperações do objeto”, diz o delegado Marco Antônio Paula Santos, seccional do centro. A secretaria usa os dados para planejar ações de policiamento.
Comportamento. Para além do que mostram os mapas com a pulverização dos crimes, há padrões em comum: da vulnerabilidade das paradas de ônibus vazias, de dia e de noite, como reclamam os moradores da região da Avenida Sapopemba, na zona leste (via de 20 km que, por seu tamanho, é a líder em registros), às recorrentes gangues que atuam de bicicleta no centro. A falta de iluminação do sol se mostra um fator a favor do crime: 6 em cada 10 roubos são à noite ou durante a madrugada.
O publicitário Iago Damasceno, de 25 anos, já foi alvo dessa onda de crimes. A primeira vez que foi assaltado foi em uma rua da Vila Carrão, na zona leste. “Voltava do curso, no fim da tarde”, lembra. Um homem armado o dominou e pediu o aparelho. Na segunda vez, o ladrão também estava armado. “Só viu o volume do celular no bolso e me mandou entregá-lo”, conta. O rapaz estava saindo de um bar na Rua Augusta – via que, com apenas 3 km de extensão, é o segundo lugar onde mais há crimes do tipo. “Não cheguei a ver a arma, mas não quis arriscar.”
O diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, diz que o Estado está diante de um tipo de crime “quase sem controle”. “O número é surpreendente porque extrapola o que a análise criminal chama de zonas quentes, as áreas de concentração da criminalidade, para se distribuir pela cidade toda. Isso aumenta o desafio de prevenção do delito.”
Lima diz que não há como fazer ação de prevenção pontual. “Exige-se todo um planejamento que vai desde as redes de receptação, a cadeia de distribuição do material roubado, até quem compra esse produto. Ações pontuais não vão dar conta e é preciso que as polícias troquem informações para que se chegue à prisão de receptadores, o fechamento de comércios ilegais e a inibição do comércio ambulante.”
Preste atenção
Anote o imei do seu aparelho
O imei (identidade internacional de equipamentos móveis, na sigla em inglês) é o número de identidade do seu aparelho celular. O número geralmente pode ser encontrado na caixa, mas você pode acessá-lo a qualquer momento ao digitar *#06# no teclado, pressionando o botão para fazer a ligação. Recomenda-se que o número seja anotado e guardado.
Registre a ocorrência
As polícias destacam a importância de que todo caso de roubo de celular seja registrado em uma delegacia, gerando um boletim de ocorrência. Não é comum que o aparelho seja encontrado e devolvido ao dono, mas o registro também serve para as polícias orientarem o trabalho de prevenção e investigação em áreas da cidade com foco desses crimes. O registro também pode ser feito pela internet: ssp.sp.gov.br/nbo.
Antes de comprar um usado, confira a procedência
Comprar aparelho sabendo que ele é fruto de crime também configura prática criminosa de receptação, com pena de reclusão de 1 a 4 anos. Para ter certeza da procedência do produto, consulte o site da secretaria da segurança (ssp.sp.gov.br) e confira se o celular está impedido após denúncia de roubo. A consulta é feita pelo número do imei. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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