A Série Original da Netflix – ‘O Mecanismo’, dirigida por José Padilha, e que estreou na última sexta-feira (23), tornou-se uma verdadeira polêmica principalmente nas redes sociais, com um debate ideológico interminável entre os internautas no último final de semana. Inspirada na Operação Lava-Jato, os oito episódios nos mostram os bastidores da corrupção. Entenda a polêmica!
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O cineasta José Padilha
O cineasta José Padilha é bastante conhecido por Tropa de Elite 1 e 2 e também pela sua participação na série Narcos, sobre o traficante colombiano Pablo Escobar, que também é uma produção da Netflix.
O Mecanismo: uma obra de ficção
Para quem se dedicar a assistir, logo nos créditos iniciais já percebemos que trata-se de uma obra de ficção: “Este programa é uma obra de ficção inspirada livremente em eventos reais. Personagens, situações e outros elementos foram adaptados para efeito dramático.”
A série é baseada no livro Lava-Jato, O Juiz Sergio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil, escrito pelo jornalista Vladimir Neto. Entretanto, os oito episódios da série destacam como protagonista o delegado da Polícia Federal Marco Ruffo, interpretado por Selton Mello. O delegado enfrenta grandes dificuldades para prender um amigo de infância, o doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Díaz), que é envolvido na remessa ilegal de dólares para o exterior, e íntimo de empreiteiros e poderosos políticos. Fica fácil de perceber que Roberto Ibrahim foi inspirado no doleiro Alberto Youssef, enquanto que Ruffo no policial aposentado Gerson Machado.
A cronologia de O Mecanismo começa lá no ano de 2003, e em seguida parte para o ano de 2013, com a campanha para a reeleição da presidente do Brasil Janete Ruscov (Sura Berditchevsky), que obviamente é inspirada em Dilma Rousseff. Entretanto, a série O Mecanismo acaba se deslocando completamente dentro da sua possibilidade de se inspirar em fatos reais, alterando as datas dos acontecimentos, e trocando as falas entre os personagens, que na vida real foram faladas por outras pessoas. Com isso, o debate esquentou para valer nas redes sociais. Se você ainda não assistiu, confira o trailer logo abaixo.
Trailer
A polêmica
O Mecanismo é uma produção de ficção baseada na fonte da história real. No entanto, neste momento e no meio deste clima de extrema polarização ideológica que assola o Brasil, sem considerar que estamos nas vésperas de uma eleição presidencial imprevisível, sempre com extremos, uma série que nos mostra personagens e fatos recentes do atualíssimo e conturbado quadro da política nacional não poderia passar em branco pela crítica daqueles que se sentiram ofendidos ao assistir.
Logo em seguida, tivemos o boicote contra a Netflix, com internautas chegando ao extremo de cancelarem as suas assinaturas no serviço de Streaming, teve efeito contrário, como veiculou o site Cinepop, mostrando que as ações da empresa aumentaram no mercado.
Nota de Dilma Rousseff
No domingo (25), Dilma Rousseff publicou uma nota que você pode conferir na íntegra logo abaixo:
O mecanismo de José Padilha para assassinar reputações
Equipe Dilma
25/03/2018 2:47
NOTA DE ESCLARECIMENTO
O país continua vivo, apesar dos ilusionistas, dos vendedores de ódio e dos golpistas de plantão. Agora, a narrativa pró-Golpe de 2016 ganha novas cores, numa visão distorcida da história, com tons típicos do fascismo latente no país.
A propósito de contar a história da Lava-Jato, numa série “baseada em fatos reais”, o cineasta José Padilha incorre na distorção da realidade e na propagação de mentiras de toda sorte para atacar a mim e ao presidente Lula.
A série “O Mecanismo”, na Netflix, é mentirosa e dissimulada. O diretor inventa fatos. Não reproduz “fake news”. Ele próprio tornou-se um criador de notícias falsas.
O cineasta trata o escândalo do Banestado, cujo doleiro-delator era Alberto Yousseff, numa linha de tempo alternativa. Ora, se a série é “baseada em fatos reais”, no mínimo é preciso se ater ao tempo em que os fatos ocorreram. O caso Banestado não começou em 2003, como está na série, mas em 1996, em pleno governo FHC.
Sobre mim, o diretor de cinema usa as mesmas tintas de parte da imprensa brasileira para praticar assassinato de reputações, vertendo mentiras na série de TV, algumas que nem mesmo parte da grande mídia nacional teve coragem de insinuar.
Youssef jamais teve participação na minha campanha de reeleição, nem esteve na sede do comitê, como destaca a série, logo em seu primeiro capítulo. A verdade é que o doleiro nunca teve contato com qualquer integrante da minha campanha.
A má fé do cineasta é gritante, ao ponto de cometer outra fantasia: a de que eu seria próxima de Paulo Roberto da Costa. Isso não é verdade. Eu nunca tive qualquer tipo de amizade com Paulo Roberto, exonerado da Petrobras no meu governo.
Na série de TV, o cineasta ainda tem o desplante de usar as célebres palavras do senador Romero Jucá (PMDB-RR) sobre “estancar a sangria”, na época do impeachment fraudulento, num esforço para evitar que as investigações chegassem até aos golpistas. Juca confessava ali o desejo de “um grande acordo nacional”. O estarrecedor é que o cineasta atribui tais declarações ao personagem que encarna o presidente Lula.
Reparem. Na vida real, Lula jamais deu tais declarações. O senador Romero Jucá, líder do golpe, afirmou isso numa conversa com o delator Sérgio Machado, que o gravou e a quem esclarecia sobre o caráter estratégico do meu impeachment.
Na ocasião, Jucá e Machado debatiam como paralisar as investigações da Lava Jato contra membros do PMDB e do governo Temer, o que seria obtido pela chegada dos golpistas ao poder, a partir do meu afastamento da Presidência da República, em 2016.
Outra mentira é a declaração do personagem baseado em Youssef de que, em 2003, o então ministro da Justiça era seu advogado. Uma farsa. A pasta era ocupada naquela época por Márcio Thomas Bastos. Padilha faz o ataque à honra do criminalista à sorrelfa. O advogado sequer está vivo hoje para se defender.
O cineasta não usa a liberdade artística para recriar um episódio da história nacional. Ele mente, distorce e falseia. Isso é mais do que desonestidade intelectual. É próprio de um pusilânime a serviço de uma versão que teme a verdade.
É como se recriassem no cinema os últimos momentos da tragédia de John Kennedy, colocando o assassino, Lee Harvey Oswald, acusando a vítima. Ou Winston Churchill acertando com Adolf Hitler uma aliança para atacar os Estados Unidos. Ou Getúlio Vargas muito amigo de Carlos Lacerda, apoiando o golpe em 1954.
O cineasta faz ficção ao tratar da história do país, mas sem avisar a opinião pública. Declara basear-se em fatos reais e com isso tenta dissimular o que está fazendo, ao inventar passagens e distorcer os fatos reais da história para emoldurar a realidade à sua maneira e ao seu bel prazer.
Reitero meu respeito à liberdade de expressão e à manifestação artística. Há quem queira fazer ficção e tem todo o direito de fazê-lo. Mas é forçoso reconhecer que se trata de ficção. Caso contrário, o que se está fazendo não está baseado em fatos reais, mas em distorções reais, em “fake news” inventadas.
DILMA ROUSSEFF
A resposta de José Padilha
José Padilha se manifestou em uma entrevista ao portal Observatório do Cinema e afirmou que a discussão sobre a fala de Jucá é “boboca”. De acordo com Padilha, se a principal reclamação é ter usado essa expressão, podemos imaginar que o público petista está achando difícil negar todo o resto. Não tem nada a dizer sobre os roubos e desvios de verbas públicas praticadas por Higino (inspirado em Lula) e Tames (Michel Temer) com os empreiteiros? Hummm… Interessante.
Padilha ainda se manifestou que em relação ao caso Banestado, o esquema de operações financeiras ilegais começou a ser investigado pelo Ministério Público na segunda metade da década de 1990, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, foi em 2003, no primeiro mandato de Lula, que foi criada a força-tarefa para investigação do caso, que envolveu a delação do doleiro Alberto Youssef, que foi posteriormente colaborador da Lava-Jato. Se o roteiro da trama descolou-se de dar o protagonismo ao juiz Sergio Moro, o que provavelmente acirraria ainda mais as discussões engajadas em lados opostos sobre ela, abriu-se a essas criticadas distorções factuais, como o Youssef da ficção ter sido detido em Brasília com mala de dinheiro endereçada à marqueteira da presidente inspirada em Dilma. Na verdade, o doleiro foi preso no Maranhão, com a dinheirama supostamente destinada à então governadora Roseana Sarney.
Padilha reforçou ainda na sua manifestação: “Essa turma nāo entendeu que a série é uma crítica ao sistema como um todo e nāo a esse ou àquele político ou a qualquer grupo partidário. Por isso se chama “O Mecanismo”. Assim, misturar falas ou expressōes de um político-personagem que o público pode confundir quem falou nāo tem a menor importância, pois sāo todos parte do sistema. É esse mecanismo que queremos combater.”
E você, o que acha de toda essa polêmica sobre a Série O Mecanismo? Deixe seu comentário logo abaixo.
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